Muito já foi escrito e falado sobre o que o próximo Papa deverá fazer
para agradar à opinião pública e, assim, conseguir que cresça o “ibope”
da Igreja. Fôssemos oferecer uma síntese das sugestões apresentadas na
TV, nos jornais e nas revistas semanais a respeito, teríamos um volumoso
livro, que exigiria daquele que for eleito vários dias para ler. Aliás,
é surpreendente o número de “vaticanistas” que surgiram de repente,
todos com soluções para todos os problemas, todos com certezas absolutas
e respostas fáceis para complicadas questões religiosas. Claro, nessas
“soluções” não há preocupação com expressões como “fidelidade ao
Evangelho”, “busca da vontade de Deus”, ou “caminho de santidade”. Para
não poucos, a Igreja deveria ser apenas e tão-somente uma organização
não governamental para se dedicar à paz, à construção da fraternidade e à
defesa da justiça. Se, tendo recebido a ordem de ir pelo mundo todo
para evangelizar, os apóstolos tivessem se guiado somente pela
divulgação de tais valores, poderiam até ter recebido algum “Nobel” da
época, mas o cristianismo não se teria divulgado pelo mundo, atraindo
inúmeras pessoas no seguimento de Jesus Cristo.
Mas, então,
qual será o programa do próximo Papa? Que valores defenderá? Que
preocupações terá? Não é difícil responder a essas perguntas, mesmo não
sendo um “vaticanista”. Tendo diante de si o testemunho de Pedro, de
Paulo e dos demais apóstolos, o novo Papa sentirá ser sua primeira e
principal tarefa proclamar que Jesus Cristo é “o Filho de Deus vivo!”, o
revelador do Deus invisível, o primogênito de toda a criatura e o
fundamento de todas as coisas. Ele é o nosso salvador; é a nossa
esperança. Um dia, virá para nos julgar.
Outra meta do futuro
Papa será a de nos ensinar que a busca da santidade não é um adorno em
nossa vida, nem meta para alguns poucos privilegiados. A santidade é a
razão de ser de nosso seguimento de Cristo. Desde o início de sua
pregação, Jesus teve a ousadia de nos apresentar ideais humanamente
impossíveis de serem alcançados, mas que, com a graça divina, tornam-se
possíveis: amar a Deus sobre todas as coisas, amar o próximo como a si
mesmo, perdoar os que nos prejudicam ou ofendem... Para resumir o
caminho de santidade que apresentava, Jesus não economizou ousadia:
“Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”.
O futuro
Papa – não é preciso ser futurólogo para prever isso – defenderá que a
vida humana é sagrada e que é preciso protegê-la desde a concepção, até o
seu término natural. Ensinará, portanto, que não é possível se pensar
em ser fiel ao Evangelho e admitir o aborto ou a eutanásia. Quando se
pronunciar sobre o matrimônio, lembrará que se trata de uma aliança pela
qual o homem e a mulher (um homem e uma mulher!) constituem entre si
uma comunhão para toda a vida. Ao tratar da família, insistirá que se
trata da primeira e vital célula da sociedade, pois é dela que saem os
cidadãos e ela é a primeira escola das virtudes sociais.
O que
esperar do próximo Papa? Mais do que esperar, desejo que ele seja alguém
que faça com todos nós o que Jesus fez com os discípulos de Emaús:
depois de terem caminhado com o Mestre, tomaram consciência de que ele
os ajudara a reler os acontecimentos da História da Salvação. Espero que
o próximo Papa nos recorde continuamente que toda a nossa vida é
acompanhada pelo olhar amoroso do Pai. Tomando consciência desse olhar,
nos convenceremos de que não temos o direito de desperdiçar a vida com
vaidades inúteis, com glórias passageiras, ou com orgulhos que, segundo a
linguagem popular, “a terra há de comer”. A consciência do olhar do Pai
nos convencerá de que a vida é um dom preciso demais para ser
desperdiçado.
Espero que o próximo Papa tenha um pouco da
bondade de João XXIII, da firmeza de Paulo VI, da simplicidade de João
Paulo I, do entusiasmo de João Paulo II e da sabedoria de Bento XVI. Não
me importará, então, se for europeu ou americano, africano ou asiático.
Para mim, o importante é que seja um homem de Deus.
Dom Murilo Krieger
Arcebispo de Salvador (BA)